segunda-feira , 3 fevereiro , 2025

Opinião | Grammy Awards 2025 entrega prêmios MERECIDOS e dá início a uma necessária reparação histórica

Mais um ano se inicia – e, com ele, nossa antecipação para as principais premiações aumenta. E, neste último dia 02 de fevereiro, retornamos para os palcos do Grammy Awards com uma edição que prometia agradar ou frustrar bastante os fãs dos principais artistas do cenário fonográfico mainstream.

É notável como a premiação ganhou ainda mais notoriedade nos últimos anos com escolhas controversas e que revelavam um favoritismo condenável por jornalistas, críticos e especialistas musicais ao redor do mundo – algo que, inclusive, foi notado pelo próprio CEO de Academia Fonográfica, Harvey Mason Jr., apareceu no evento para dar as boas-vindas ao retorno de The Weeknd. Afinal, para aqueles que não e lembram, o cantor e compositor havia detonado o júri por trás do Grammy após seu álbum, ‘After Hours’ (um dos mais bem avaliados e bem sucedidos de 2020, ter sido deixado de fora de todas as categorias na 63ª edição), e ele ter promovido um boicote generalizado.

Não é de hoje que tais injustiças acontecem, principalmente quando falamos de artistas negros: tivemos, por exemplo, o momento em que Taylor Swift venceu a categoria de Álbum do Ano em 2016 com ‘1989’, causando uma comoção generalizada quando todas as previsões apontavam para a vitória de Kendrick Lamar com o lendário ‘To Pimp a Butterfly’. No ano seguinte, Adele fez questão de reconhecer o impacto causado por ‘Lemonade’, de Beyoncé, depois de vencer a mesma categoria com ‘25’ e utilizar seu privilégio e sua plataforma para celebrar a comunidade afro-americana e a necessidade de maior reconhecimento por tais artistas. Ora, recentemente, SZA e Beyoncé foram deixadas de lado por produções impecáveis e que caíram no gosto popular e da crítica, reacendendo diversas discussões sobre não apenas a falta de diversidade entre os membros da Academia, mas uma espécie de contínuo desprezo para musicistas negros.

Porém, parece que a 67ª edição do Grammy Awards começou a dar ares de mudança. Conforme declarado por Mason Jr., os membros participantes do júri aumentaram exponencialmente – computando nada menos que 13 mil votantes -, abrindo espaço para uma diversidade necessária e que veio de encontro ao conhecido e exaurível tradicionalismo do grupo. Dessa forma, essa expandida gama permitiu que uma provável repetição da história fosse retraída, mesmo que não da maneira necessária, honrando o legado de inúmeros performers e funcionando como o primeiro passo de uma “reparação histórica” iminente.

A maior surpresa – e o maior merecimento, que fique bem claro -, veio na última categoria da noite. Beyoncé conquistou o merecido gramofone dourado de Álbum do Ano pelo aplaudido ‘Cowboy Carter’, segunda parte de uma impiedosa e ostensiva trilogia que teve início com ‘Renaissance’ e que tem como principal objetivo resgatar a memória afro-americana dentro do cenário fonográfico. Apostando fichas no country e no americana, nossa Queen B trouxe uma amálgama grandiosa de colaboradores e samples para honrar uma memória esquecida e que teve início ainda em 2016, quando foi rechaçada por artistas country brancos por performar no palco do Country Music Awards.

Assista Também:


A primeira resposta de Bey foi a construção do álbum, que levou cinco anos para ser completada, como ela mesma afirmou: caindo no gosto da crítica, rendendo-lhe um #1 na Billboard Hot 100 com “Texas Hold ‘Em” e já tendo ultrapassado 1,6 bilhão de streams no Spotify, o compilado de originais continuou a demonstrar o impacto significativo da titânica artista mais de duas décadas e meia no cenário mainstream. E isso não é tudo: durante a cerimônia, ela se tornou a primeira artista negra a conquistar um prêmio nas categorias country – levando para casa as estatuetas de Melhor Colaboração Country por “II Most Wanted” e Melhor Álbum Country -, dando indícios de uma essencial desestabilização da dominância caucasiana no gênero.

Por fim, a cereja do bolo veio com o anúncio de Álbum do Ano, em que os bombeiros do departamento de Los Angeles ficaram em choque com a vitória de Bey – e a consagração arrancou aplausos e ovações de todos os membros da plateia (ora, é possível até mesmo ver Swift sendo a primeira a levantar a taça de champagne e Lady Gaga e Cynthia Erivo dando pulos de felicidade e com as mãos dadas conforme Bey subia para coletar seu prêmio). É claro que, num contexto mais geral, não podemos fazer vista grossa frente ao fato de que a performer precisou navegar entre cinco gêneros diferentes e uma reinvenção constante de sua própria identidade artística para ser homenageada com uma condecoração muito atrasada.

Bey não foi a única a ser vingada no Grammy: Lamar varreu a premiação ao ser anunciado como vitorioso em todas as categorias a que estava indicado, incluindo Música do Ano e Gravação do Ano pela implacável “Not Like Us” – e tendo alcançado o feito com uma diss track assinada diretamente para o rapper Drake; em outro âmbito, Doechii, que ganhou o mundo com a mixtape ‘Alligator Bites Never Heal’, tornou-se a terceira rapper a levar para casa o prêmio de Melhor Álbum Rap, juntando-se a Lauryn Hill e a Cardi B em um momento histórico.

Em muito tempo, a Academia do Grammy finalmente acertou em boa parte de seus prêmios e começou a denotar uma preocupação em reparar erros de um passado não muito distante. Ainda há muito a ser revisto, é óbvio, mas ao menos os primeiros passos começaram a ser dados – e coroaram uma das maiores artistas de todos os tempos em uma celebratória honraria que arrancou lágrimas até mesmo dos mais céticos.

Será ALUCINANTE! Patricia Arquette e Tramell Tillman falam sobre a 2ª temporada de Ruptura

Mais notícias...

Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

Siga-nos!

2,000,000FãsCurtir
372,000SeguidoresSeguir
1,620,000SeguidoresSeguir
200,000SeguidoresSeguir
162,000InscritosInscrever

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

MATÉRIAS

CRÍTICAS

Opinião | Grammy Awards 2025 entrega prêmios MERECIDOS e dá início a uma necessária reparação histórica

Mais um ano se inicia – e, com ele, nossa antecipação para as principais premiações aumenta. E, neste último dia 02 de fevereiro, retornamos para os palcos do Grammy Awards com uma edição que prometia agradar ou frustrar bastante os fãs dos principais artistas do cenário fonográfico mainstream.

É notável como a premiação ganhou ainda mais notoriedade nos últimos anos com escolhas controversas e que revelavam um favoritismo condenável por jornalistas, críticos e especialistas musicais ao redor do mundo – algo que, inclusive, foi notado pelo próprio CEO de Academia Fonográfica, Harvey Mason Jr., apareceu no evento para dar as boas-vindas ao retorno de The Weeknd. Afinal, para aqueles que não e lembram, o cantor e compositor havia detonado o júri por trás do Grammy após seu álbum, ‘After Hours’ (um dos mais bem avaliados e bem sucedidos de 2020, ter sido deixado de fora de todas as categorias na 63ª edição), e ele ter promovido um boicote generalizado.

Não é de hoje que tais injustiças acontecem, principalmente quando falamos de artistas negros: tivemos, por exemplo, o momento em que Taylor Swift venceu a categoria de Álbum do Ano em 2016 com ‘1989’, causando uma comoção generalizada quando todas as previsões apontavam para a vitória de Kendrick Lamar com o lendário ‘To Pimp a Butterfly’. No ano seguinte, Adele fez questão de reconhecer o impacto causado por ‘Lemonade’, de Beyoncé, depois de vencer a mesma categoria com ‘25’ e utilizar seu privilégio e sua plataforma para celebrar a comunidade afro-americana e a necessidade de maior reconhecimento por tais artistas. Ora, recentemente, SZA e Beyoncé foram deixadas de lado por produções impecáveis e que caíram no gosto popular e da crítica, reacendendo diversas discussões sobre não apenas a falta de diversidade entre os membros da Academia, mas uma espécie de contínuo desprezo para musicistas negros.

Porém, parece que a 67ª edição do Grammy Awards começou a dar ares de mudança. Conforme declarado por Mason Jr., os membros participantes do júri aumentaram exponencialmente – computando nada menos que 13 mil votantes -, abrindo espaço para uma diversidade necessária e que veio de encontro ao conhecido e exaurível tradicionalismo do grupo. Dessa forma, essa expandida gama permitiu que uma provável repetição da história fosse retraída, mesmo que não da maneira necessária, honrando o legado de inúmeros performers e funcionando como o primeiro passo de uma “reparação histórica” iminente.

A maior surpresa – e o maior merecimento, que fique bem claro -, veio na última categoria da noite. Beyoncé conquistou o merecido gramofone dourado de Álbum do Ano pelo aplaudido ‘Cowboy Carter’, segunda parte de uma impiedosa e ostensiva trilogia que teve início com ‘Renaissance’ e que tem como principal objetivo resgatar a memória afro-americana dentro do cenário fonográfico. Apostando fichas no country e no americana, nossa Queen B trouxe uma amálgama grandiosa de colaboradores e samples para honrar uma memória esquecida e que teve início ainda em 2016, quando foi rechaçada por artistas country brancos por performar no palco do Country Music Awards.

A primeira resposta de Bey foi a construção do álbum, que levou cinco anos para ser completada, como ela mesma afirmou: caindo no gosto da crítica, rendendo-lhe um #1 na Billboard Hot 100 com “Texas Hold ‘Em” e já tendo ultrapassado 1,6 bilhão de streams no Spotify, o compilado de originais continuou a demonstrar o impacto significativo da titânica artista mais de duas décadas e meia no cenário mainstream. E isso não é tudo: durante a cerimônia, ela se tornou a primeira artista negra a conquistar um prêmio nas categorias country – levando para casa as estatuetas de Melhor Colaboração Country por “II Most Wanted” e Melhor Álbum Country -, dando indícios de uma essencial desestabilização da dominância caucasiana no gênero.

Por fim, a cereja do bolo veio com o anúncio de Álbum do Ano, em que os bombeiros do departamento de Los Angeles ficaram em choque com a vitória de Bey – e a consagração arrancou aplausos e ovações de todos os membros da plateia (ora, é possível até mesmo ver Swift sendo a primeira a levantar a taça de champagne e Lady Gaga e Cynthia Erivo dando pulos de felicidade e com as mãos dadas conforme Bey subia para coletar seu prêmio). É claro que, num contexto mais geral, não podemos fazer vista grossa frente ao fato de que a performer precisou navegar entre cinco gêneros diferentes e uma reinvenção constante de sua própria identidade artística para ser homenageada com uma condecoração muito atrasada.

Bey não foi a única a ser vingada no Grammy: Lamar varreu a premiação ao ser anunciado como vitorioso em todas as categorias a que estava indicado, incluindo Música do Ano e Gravação do Ano pela implacável “Not Like Us” – e tendo alcançado o feito com uma diss track assinada diretamente para o rapper Drake; em outro âmbito, Doechii, que ganhou o mundo com a mixtape ‘Alligator Bites Never Heal’, tornou-se a terceira rapper a levar para casa o prêmio de Melhor Álbum Rap, juntando-se a Lauryn Hill e a Cardi B em um momento histórico.

Em muito tempo, a Academia do Grammy finalmente acertou em boa parte de seus prêmios e começou a denotar uma preocupação em reparar erros de um passado não muito distante. Ainda há muito a ser revisto, é óbvio, mas ao menos os primeiros passos começaram a ser dados – e coroaram uma das maiores artistas de todos os tempos em uma celebratória honraria que arrancou lágrimas até mesmo dos mais céticos.

Mais notícias...

Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

Siga-nos!

2,000,000FãsCurtir
372,000SeguidoresSeguir
1,620,000SeguidoresSeguir
195,000SeguidoresSeguir
162,000InscritosInscrever

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

MATÉRIAS

CRÍTICAS