Apesar dos esforços da Paris Filmes em trazer a atriz indicada ao Oscar Karla Sofía Gascón e o diretor Jacques Audiard para o Brasil, ‘Emilia Pérez’ não conseguiu atrair o público brasileiro aos cinemas.
Os tuítes polêmicos da Karla implodiram o interesse dos brasileiros no filme que concorre ao Oscar, disputando Melhor Filme Estrangeiro com ‘Ainda Estou Aqui‘.
O CinePOP conseguiu com exclusividade dados que mostram que o filme foi lançado em 250 telas em sessões de pré-estreias, mas abriu em 16º lugar nas bilheterias brasileiras.
Para efeitos de comparação, ‘A Verdadeira Dor‘ está em quase metade das salas de cinema e levou mais público aos cinemas.
‘Emilia Pérez’ levou apenas 16,6 mil pessoas aos cinemas de quinta a domingo, com a baixa média de 70 pessoas por sala.
O filme estreia oficialmente amanhã, dia 6 de Fevereiro, aonde o circuito será ampliado para 350 telas.
Confira:
Na última polêmica envolvendo o filme, a Netflix decidiu se afastar de Karla Sofía Gascón durante a campanha do filme no Oscar.
Segundo o The Hollywood Reporter, em meio às grandes controvérsias envolvendo a atriz, e após ela ter dado recentemente uma entrevista à CNN Espanha, onde comentou sobre os tweets sem avisar sua própria equipe, a Netflix optou por se distanciar de Gascón.
Esta semana, a atriz teria diversos eventos e entrevistas agendados em Los Angeles para divulgar o filme, mas todos foram cancelados. Além disso, de acordo com a reportagem, a Netflix decidiu que não fornecerá mais as cortesias habituais de um estúdio a um indicado ao Oscar, como transporte e acomodações, para facilitar a participação de Gascón nos eventos restantes da temporada de premiações.
Agora, as duas partes estariam se comunicando exclusivamente por meio do agente de Gascón, Jeremy Barber, da UTA.
Vale lembrar que a campanha estava indo muito bem até o dia 23 de janeiro, quando o filme recebeu 13 indicações ao Oscar, um número recorde. Porém, devido às polêmicas, o filme corre o risco de sair da cerimônia de mãos vazias.
Além da Netflix, outros profissionais também envolvidos na corrida pelo Oscar estão se distanciando de Gascón. De acordo com a reportagem, algumas pessoas estão avisando que irão cancelar sua participação em eventos onde a atriz estará presente, caso ela não cancele a sua, temendo que a situação se torne desconfortável.
Enquanto isso, em busca de garantir um prêmio, a Netflix tem se dedicado a manter o nome dos outros indicados de ‘Emilia Pérez’ fortes na campanha, especialmente a indicada a Melhor Atriz Coadjuvante, Zoe Saldaña, que até o momento é a grande favorita na categoria, além de tentar se distanciar das polêmicas envolvendo Gascón.
Gascón já foi removida de e-mails promocionais e anúncios relacionados ao filme para as premiações. A atualização da publicidade externa leva mais tempo, mas alguns outdoors que atualmente apresentam imagens de Gascón em breve destacarão outros membros do elenco, além dela ou exclusivamente.
Gascón se emocionou durante uma entrevista recente, onde chorou e desabafou sobre as críticas que recebeu após a internet resgatar tweets polêmicos nos quais ela fazia comentários racistas, ofensas ao Islã, a George Floyd, entre outros.
De acordo com o Deadline, durante a conversa com Juan Carlos Arciniegas, da CNN Espanha, Gascón reafirmou que “não é racista” e pediu desculpas sinceras a todas as pessoas que possam ter se sentido ofendidas pela forma como se expressou no passado, no presente e no futuro.
Ela acrescentou: “Acredito que fui julgada, condenada, sacrificada, crucificada e apedrejada sem julgamento e sem a opção de me defender”.
Gascón também falou sobre sua “maravilhosa filha”, que, segundo ela, a ensinou “valores importantes”.
A atriz compartilhou que se identifica com as lutas das pessoas negras.
“Eu me sinto e me identifico muito com as pessoas que foram expulsas dos ônibus pela cor da pele, com aquelas que não podiam estudar na universidade, com as que eram odiadas simplesmente por existirem, assim como sou odiada neste momento”, disse, emocionada.
Em outro momento, Gascón se emocionou ainda mais ao falar sobre um “relacionamento com uma mulher maravilhosa que é muçulmana” e que a ensinou sobre respeito. Ela afirmou que essa pessoa tem sido seu apoio “100%” neste momento.
A atriz também relembrou o trágico falecimento de seu irmão, quando ela tinha 20 anos: “Quando eu era muito pequena, meu irmão morreu em um acidente de Natal, e sempre senti um ressentimento em relação aos seres humanos de todos os espectros, porque me parece que os seres humanos são algo deplorável, mas também algo no qual tenho uma esperança incrível”.
Ela também revelou que sempre enfrentou ódio por ser trans e, certa vez, foi atacada no México por ser espanhola, com pessoas a chamando de “mulher espanhola que veio de novo roubar o ouro deles”.
Entre lágrimas, ela disse: “Eu não parei de receber ódio, ameaças de morte, insultos, abusos. Eu não vi ninguém sair em qualquer mídia, em qualquer espaço, em qualquer lugar, levantando a mão por mim e dizendo: ‘Ei, o que está acontecendo com essa pessoa que vocês estão massacrando?’ E ninguém, ninguém levantou um dedo por mudança”.
Quando questionada sobre um tweet polêmico no qual chamou George Floyd, assassinado por policiais em 2020, de “viciado em drogas e um vigarista”, Gascón confirmou que escreveu o post e afirmou que, na época, via as redes sociais “infelizmente mais como um diário”, cheio de “reflexões” em vez de algo que pudesse influenciar os outros.
Ela ainda acrescentou que o tweet foi escrito em tom de “ironia, sarcasmo e, às vezes, exagero”, e usou um recurso de “falar em terceira pessoa” para expressar algo negativo.
Gascón enfatizou que, “obviamente”, é uma apoiadora do movimento Black Lives Matter e que escreveu o tweet para apontar os comentários racistas de outros.
A atriz também reconheceu que seu tweet sobre o Oscar de 2021, onde chamou as vitórias de Daniel Kaluuya e Yuh-Jung Youn de “festival afro-coreano”, foi “estupidez” e afirmou que “certamente eles mereceram esses prêmios por todo o trabalho deles, e não pelo que são”.
Sobre um outro tweet, onde comparou a guerra contra Hitler à forma como a representação de negros e mulheres é abordada, Gascón explicou que usava a “terceira pessoa” para se referir a uma visão extremista, como se fosse uma nazista.
Ela acrescentou que, com seus tweets sobre Floyd, muçulmanos e Hitler, “parece que essa é uma pessoa terrível e má, quando precisamente estou tentando refletir o oposto”.
Gascón também desmentiu um tweet que circulou, no qual ela parecia chamar sua colega de elenco Selena Gomez de “rata rica”.
Ela afirmou que a acusação era falsa e que nunca havia feito tal comentário. “Eu disse: ‘Bem, o que fiz na minha vida? O que fiz — se não matei uma mosca, que, quando vou a lugares e vejo uma aranha em minha casa, eu coloco em um copo para não matá-la e a levo para a rua?’”, disse entre lágrimas, expressando que a resposta à controvérsia a fez sentir como se tivesse cometido um “crime.”
Gascón acrescentou que não tem “nada a esconder” e que sua “consciência está limpa”.
“Se o mundo inteiro acha que sou uma pessoa tão má que tenho que voltar para minha casa, então vou para casa com minha família, meus gatos e as pessoas que me amam, e vou continuar minha vida como sempre fiz. Nunca me faltou um prato de sopa porque fiz as coisas de maneira honesta, sem machucar ninguém neste mundo”, afirmou.
Quando perguntada se acredita que o “orgulho” teve algum papel em tudo isso, Gascón respondeu:
“Quando você vem de um lugar onde tem que se defender constantemente… é realmente feio se acostumar a receber violência, e a ser capaz de lutar e viver em um mundo onde você é ameaçado de morte constantemente, às vezes você tem que se elevar acima disso para que não te afundem. Porque se eu fosse um tipo diferente de pessoa, talvez, que tivesse deixado isso passar e não tivesse essa capacidade, com certeza já teria tirado minha vida diante de tudo o que aconteceu comigo”, afirmou.
Gascón concluiu a entrevista pedindo desculpas à sua filha por ela ter que lidar com a controvérsia em vez de celebrar, e acrescentou que está ciente de que suas palavras “vão ser distorcidas para o que [os outros] gostam ou desejam”.
“Isso é óbvio, e eles vão tirar as conclusões que cada um quiser tirar, mas como eu te disse antes, sou responsável apenas pelo que meu coração sente”, concluiu.
“Em Emília Perez, ambientado no México, acompanhamos a história de Rita (interpretada por Zoe Saldana), uma advogada excepcional cujo talento é subutilizado em uma firma de baixa qualidade. Em vez de buscar a justiça, a firma encobre crimes. Um dia, surge uma proposta irrecusável para Rita: ajudar Juan Del Monte, o temido chefe do cartel, a se aposentar de seu negócio e desaparecer para sempre”.
O filme é dirigido por Jacques Audiard, conhecido por ‘O Profeta’, com roteiro também de Jacques Audiard (‘Paris, 13º Distrito’).