Bel Bechara e Sandro Serpa são dois dos cineastas mais prestigiados do cenário contemporâneo da sétima arte nacional – e, ao longo de sua carreira, já comandaram projetos como ‘Onde Quer que Você Esteja’, ‘Histórias de Marabaixo’ e ‘Hoje é o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida’, entre muitos outros.
Agora, a dupla está retornando às telonas com o ambicioso projeto ‘Lusco-Fusco’, cujas gravações terminam hoje, 20 de fevereiro, em Osasco – na Grande São Paulo.
O enredo do longa-metragem gira em torno da relação de amizade entre duas mulheres. Vera (Amandyra), uma professora do ensino fundamental envolvida em uma relação abusiva com Matias (Allan Souza Lima), cujo retorno repentino abala sua vida. Já Alda (Sandra Corveloni), sua vizinha não alfabetizada e faxineira no mesmo colégio, desistiu de seus sonhos para cuidar do filho, Dinho (Pedro Ottoni), e da neta, Joana (Duda Sampaio). A amizade entre as duas fortalece e ilumina os caminhos para escaparem da opressão que vivem, inspirando a menina Joana, sobre o que é ser uma mulher no Brasil no século XXI.
Recentemente, tivemos a oportunidade de acompanhar as gravações do filme e a honra de conversar com Ottoni e Amandyra, que revelaram alguns detalhes sobre o projeto e sobre os personagens que interpretam. Também conversamos com Corveloni, cuja entrevista você pode conferir aqui!
O QUE PODEMOS ESPERAR DO FILME?
OTTONI: Olha, eu acho que o que eu posso contar até agora é o que tem de… De releases. É uma história sobre essas duas mulheres, Alda e Vera, que estão passando por diferentes situações de abuso nas suas vidas pessoais. A Vera com relacionamento abusivo, a Alda sendo vítima de fake news… E elas se encontram para que juntas consigam… Eu não digo vencer, porque não é uma história tão fantasiosa, assim, de “o bem vence o mal”, mas… Poder sobreviver através desses abusos e terem uma nova visão de mundo, sabe?
AMANDYRA: Eu espero que as pessoas possam esperar… Acho que o filme vem para abrir a perspectiva do que é possível e sempre será possível. Como a gente está retratando, falando sobre a amizade de duas mulheres, dois personagens, e o filme mostra como que essa sororidade, essa aproximação, essa amizade, [isso] é um caminho para sair de determinadas opressões. Então, acho que, com esse filme, a gente pode observar o que acontece mais no nosso bairro, estar atento às pessoas que a gente pode se aliar e ter essa disposição e confiança de sair das nossas opressões através dos encontros. Talvez isso seja uma das coisas.
O QUE VOCÊS PODEM CONTAR SOBRE SEUS PERSONAGENS?
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OTTONI: O Dinho é esse homem, né? Eu gosto de enfatizar que é um homem pra não cair no erro que a sociedade tem de chamar homens de meninos. Porque aí tiram a responsabilidade desses homens, porque são tratados como meninos. E aí, eles são meninos até os 40, 50 anos de idade. O Dinho é um homem já com seus 20 e tantos, quase 30. É um pai, já tem uma filha de nove anos. E por que eu gosto de deixar claro que ele é um homem e não um menino? Porque ele não entendeu isso ainda. A responsabilidade de ser esse pai, de ser presente. Presente ele é, porque ele vive com a Alda e com a Joana na mesma casa. Mas na hora que ele tem que ser responsável, lhe falta essa responsabilidade: buscar a filha no horário, fazer o dever de casa com a criança. Estar presente ali pra ter um momento de qualidade com a filha. Então, eu acho que é um desafio muito grande fazer um personagem que tem muitos erros.
E ainda assim, protegê-lo em cena e mostrar que todo mundo tem os seus porquês. É uma coisa que a gente não vê no filme, ele tem um background ali de não ter a sua parceira. Ela não tá mais entre nós. Então, ele ficou com essa responsabilidade de ser um pai solo. Mas que não é solo, porque a Alda, que é a mãe dele e a avó da Joana, tá ali cuidando da menina até mais do que o Dinho faz. Eu adoro [interpretá-lo], porque é um personagem que tem muitas camadas. Eu acho que vocês vão gostar dele, mas vão estar sempre com o pé atrás de esse cara não tá fazendo o que deveria pra ajudar essa família.
AMANDYRA: Então, eu faço a professora Vera, que é uma professora do ensino fundamental e que tem essa relação dificultosa, tóxica, abusiva com o marido. Um namorado de muitos anos. E, ao conhecer a faxineira da escola que sofre outro tipo de opressão, elas começam a se fortalecer nessa relação através da amizade, do aprendizado, do ensino-aprendizagem. Então, eu faço essa personagem da professora.
E COMO FORAM AS GRAVAÇÕES EM OSASCO? ALGUMA HISTÓRIA DIVERTIDA DE BASTIDORES?
OTTONI: Ah, eu acho que [gravar em Osasco] está sendo maravilhoso. São Paulo tem sido muito bom pra mim, né? A verdade é essa. Eu acho que em 2024, todos os trabalhos audiovisuais que eu fiz foram em São Paulo. E agora, começar 2025, também aqui, tem sido… [As pessoas] têm me recebido muito bem. Eu estou adorando. É bem tranquila, né? A rua que a gente está gravando aqui em Osasco. Os vizinhos estão sendo muito… Estão sendo muito solícitos. Eles estão entendendo o que é uma gravação. Estão evitando o barulho pra que a gente possa fazer um filme bonito e maravilhoso.
AMANDYRA: Cara, eu não sei se é uma história engraçada, mas quando eu faço uma professora, a gente teve o período de gravação com as crianças na escola. E teve o Caio. O Caio é um ator, uma criança maravilhosa. E na escola que a gente gravava, tinha um piano parado, ninguém nunca tocou, a gente passava despercebido. E o Caio um dia parou nesse piano e começou a tocar “Hit the Road Jack”. Nossa! É isso! E aí toda a vibe do set mudou e até hoje, quando eu encontro o Caio, ele me revigora. Isso foi uma situação curiosa de muita distensão. Criança faz isso no set.
Lembrando que ‘Lusco-Fusco’ ainda não tem data de estreia nos cinemas nacionais.