A nova comédia de terror da Max tinha tudo para dar certo: intitulado ‘Um Terror de Parentes’, o despretensioso longa-metragem acompanha um casal gay formado por Rohan (Nik Dodani) e Josh (Brandon Flynn), que resolvem alugar uma grande casa no interior para que seus pais finalmente se conheçam e conheçam um ao outro – visto que Rohan pretende pedir Josh em casamento no final de semana em questão. Porém, as coisas não saem como o planejado e, logo que seus progenitores chegam lá, começam a se desentender com comentários ácidos que escalam exponencialmente. Mas isso não é tudo: o que eles não sabem é que a enorme propriedade é lar de um demônio de mais de quatrocentos anos sedento para escapar de sua prisão e que não pensará duas vezes antes de matar todos ali presentes.
Dirigido por Craig Johnson, mesmo nome por trás da rom-com ‘Alex Strangelove’, a narrativa aposta fichas em uma mistura de inúmeros clichês de ambos os gêneros que, vez ou outra, funcionam em estruturas que, de fato, abraçam esses convencionalismos com força considerável. Entretanto, o resultado da produção é aquém do esperado e carece de elementos mais convincentes e menos ocasionais – ainda que o elenco estelar consiga nos envolver com uma química interessante e prática. E, à medida que nos aproximamos do final, percebemos que as incursões promovidas por Johnson partem de previsibilidades frustrantes que diluem o potencial incrível de uma narrativa envolvente.
Dodani e Flynn comandam os holofotes da produção com performances ótimas e que fogem dos estereótipos de personagens gays, nos cativando desde os primeiros momentos que aparecem em cena. Ao chegarem à casa, Rohan e Josh cruzam caminho com a estranha presença de Brenda (Parker Posey), que cuida do local, mas age de forma estranha – sem contar a eles sobre a presença demoníaca na casa e que ela está intrinsecamente atada ao que essa entidade maligna está fazendo. Não demora muito até que o demônio seja invocado por um dos hóspedes e dê início a um reino de caos que, no final das contas, não apresenta muita ameaça para ninguém e mancha uma base que poderia ter se fincado mais nas complexas e divertidas relações entre os personagens humanos.
Para além do casal protagonista, temos também Lisa Kudrow como Liddy e Dean Norris como Cliff, os excêntricos e extrovertidos pais de Josh, além de Brian Cox como Frank e Edie Falco como Sharon, os pais introspectivos e superprotetores de Rohan – permitindo que personalidades distintas entrem em conflito antes do demônio de apoderar de Frank e virar a vida de cabeça para baixo de todos. E, enquanto ninguém pode ser encarado como um escape cômico, levando em conta o teor artístico do filme, Vivian Bang é uma adição bem-vinda como Sara, melhor amiga de Josh e Rohan, ainda que sua presença não seja explorada ao máximo como deveria. No geral, cada membro do elenco tem seu momento de brilhar – mas nem o peso que trazem às telas é forte o suficiente para ofuscar os constantes equívocos.
O roteiro assinado por Kent Sublette soa como uma mistura descompassada e em esteroides de ‘O Exorcista’ com ‘Mansão Mal-Assombrada’, apoiando-se em construções cruas e diálogos autoexplicativos que não se seguram em qualquer momento; todavia, enquanto a entrega das falas é bem-feita dentro de um prospecto difícil de se navegar, a escolha das palavras é baseada em fórmulas cansativas e repetições exauríveis que põe os personagens como vítimas de suas próprias ações, jogando-os em um vórtice de constantes desculpas e explicações que não acrescentam em nada para o andamento da narrativa. Em outras palavras, seria melhor se a história se apoiasse totalmente nos arquétipos do slasher, como ‘Casamento Sangrento’ ou abolisse o elemento sobrenatural em prol de algo mais sarcástico, como ‘Morte Morte Morte’.
Os problemas permanecem em outros âmbitos do longa, como a insípida fotografia de Hillary Spera e a convencional montagem de Josh Crockett – permeadas por uma subserviência a uma expressão artística familiar demais para ser levada a sério, que incluem uma paleta de cores fria e amiudada, bem como efeitos especiais de baixíssimo orçamento que fazem com que o CGI de ‘Once Upon a Time’ seja digno de Oscar. Entretanto, caso consigamos desviar o olhar de uma configuração trôpega, é possível se divertir dentro de limites bastante delineados.

‘Um Terror de Parentes’ peca por não mergulhar de cabeça naquilo em que se propõe e por desperdiçar elementos de potencial surpreendente ao jogá-los em um liquidificador descontrolado de preceitos vencidos que são brevemente ofuscados pelas talentosas habilidades de um elenco com um sólido timing cômico.

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