Após sua exibição no Festival Internacional de Cinema de Toronto (TIFF), Imparável (Unstoppable), estrelado por Jharrel Jerome e Jennifer Lopez, chega ao Prime Video, ausente da temporada de prêmios. Inspirado na autobiografia de Anthony Robles, tricampeão de luta greco-romana que nasceu sem a perna direita, o longa se apresenta como um melodrama de superação e uma poderosa mensagem de perseverança.
Sob a direção de William Goldenberg, veterano editor que faz sua estreia como cineasta, a obra falha em transmitir emoção à fascinante história real de Anthony Robles. Vencedor do Oscar por Argo (2012), dirigido por Ben Affleck, Goldenberg acumula quatro outras indicações por seu trabalho de edição em dramas baseados em fatos reais, como O Jogo da Imitação (2015) e A Hora Mais Escura (2013). Ao assumir o comando da câmera, entretanto, sua abordagem nunca chega a um momento explosivo como em Rock: um Lutador (1976), exemplo fixado na parede do quarto do personagem.
A obra tem o mérito de explorar com seriedade um esporte retratado como comédia no cinema: a luta greco-romana. Sendo menos impactante que o boxe, as cenas de competição não conseguem capturar a intensidade e o peso emocional esperados. É difícil não torcer por Anthony, mas Imparável exagera na tentativa de envolver o espectador, diluindo o impacto genuíno da história, em especial a trilha sonora genérica de soft rock.
O senso de urgência, de “agora ou nunca”, tanto das escolhas do protagonista quanto da competição, poderia ter sido melhor explorado para criar um impacto duradouro. A história de Robles é repleta de desafios emocionais e sociais. O filme, entretanto, se contenta em seguir uma linha de ação e reação, sem ousadia no tratamento visual ou narrativo. Como em outros dramas biográficos, como Bar, Doce Lar (2021), de George Clooney, ou O Castelo de Vidro (2017), com Brie Larson, Imparável apresenta uma visão sobre superação em um ambiente familiar desestruturado e a conquista do sonho (americano).
Vencedor do Emmy por Olhos que Condenam (2019), Jharrel Jerome entrega uma performance física e emocional admirável, trazendo credibilidade ao papel de Anthony Robles. Sua dedicação ao personagem é evidente, especialmente em cenas como uma exaustiva caminhada morro acima, que captura a determinação e o esforço real de alguém superando desafios extremos.
De maneira contida, Jennifer Lopez interpreta a mãe de Robles com calor maternal e coragem, embora o roteiro não lhe ofereça muito espaço para brilhar. Sua performance relembra o potencial visto em As Golpistas (2019), mas carece da mesma profundidade. As cenas ao redor da mesa de jantar com os cinco filhos e o marido abusivo Rick (Bobby Cannavale) são as partes mais enfadonhas. Já Don Cheadle e Michael Peña, como treinadores, adicionam camadas de suporte emocional ao filme, mas também são prejudicados por diálogos rasos e marcados pelas frases de efeito moral.
Produzido pela Artists Equity de Matt Damon e Ben Affleck, Imparável possui os elementos de um drama esportivo inspirador — como Air: A História Por Trás do Logo (2023) —, todavia se contenta em ser mais um filme de superação na extensa lista de biografias norte-americanas. Com uma direção visualmente cômoda e uma narrativa sequencial, a produção evoca os filmes feitos para TV do século XX, mais empenhados em educar o público do que em mesmerizá-lo.