quarta-feira , 19 março , 2025

Crítica | Pai do Ano – Michael Keaton no piloto automático em um drama açucarado


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Dirigido por Hallie Meyers-Shyer (De Volta Para Casa), Pai do Ano (Goodrich) acompanha Andy Goodrich (Michael Keaton), um típico homem abastado de Los Angeles que, apesar de suas dificuldades financeiras como dono de uma galeria de arte, nunca realmente precisa lidar com questões monetárias. Seu maior desafio surge quando sua esposa Naomie (Laura Benanti) interna-se em uma casa de reabilitação, forçando-o a assumir a responsabilidade pelo casal de gêmeos de nove anos que, até então, eram cuidados pela mãe viciada em remédios de tarja preta e uma babá.

A narrativa se apoia nos clichês do gênero, trazendo a clássica história do homem deixado sozinho com os filhos que, de forma quase milagrosa, aprende a ser pai – tudo isso sem grandes sacrifícios ou consequências reais. Pai do Ano ganha um pouco mais de peso com a presença de Grace (Mila Kunis), a filha mais velha de Andy, que está grávida e ressente a ausência do pai. Essa camada emocional, no entanto, não é verdadeiramente aprofundada e funciona mais como um aditivo dramático do que um conflito genuíno.



Homem careca gesticulando em escritório cheio de livros

Michael Keaton entrega uma performance carismática, fazendo de Andy um sujeito falho, mas afável. Sua jornada de redenção lembra inevitavelmente a de Robin Williams em Uma Babá Quase Perfeita (1993), de Chris Columbus, no qual o personagem descobre tardiamente as alegrias e desafios da paternidade. Mila Kunis, por sua vez, adiciona nuances ao papel de Grace, traduzindo bem o ressentimento e a mágoa de uma filha esquecida. Entretanto, seu arco dramático parece subaproveitado, refletindo a maneira como Andy, e o próprio roteiro, não lhe dão a devida atenção. 

Uma das cenas bonitas do filme ocorre quando Andy apresenta Casablanca (1942) aos gêmeos. Enquanto Andy se encanta em compartilhar um clássico do cinema, ele ignora se o conteúdo é apropriado para crianças. O momento simboliza uma conexão entre pai e filhos, mas também revela a imaturidade do protagonista e seu lento crescimento como figura paterna. A sequência reflete sua dificuldade em compreender as reais necessidades dos filhos e a dificuldade de estabelecer vínculos genuínos com eles.


Pai e filhos olhando tablet juntos em casa

Embora apresente momentos cativantes de interação familiar e um humor leve, Pai do Ano sofre com problemas típicos do gênero: personagens secundários pouco desenvolvidos e uma trilha sonora sentimental. A subtrama da galeria de arte prestes a fechar nunca soa como uma verdadeira ameaça, pois Andy não aparenta aflição pela sua situação financeira — um problema comum em comédias que tentam abordar crises existenciais de personagens ricos sem nunca comprometê-los com consequências reais.

Além disso, Pai do Ano se insere como um filme genérico dentro da retomada da carreira de Michael Keaton, que voltou aos holofotes após sua nomeação ao Oscar por Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) (2014), de Alejandro González Iñárritu, e entregou trabalhos marcantes como Spotlight: Segredos Revelados (2015) e Fome de Poder (2016). Mesmo retornando ao seu icônico papel de Beetlejuice na sequência de Tim Burton no ano passado, seu personagem Andy Goodrich parece o mais pálido dessa trajetória. Sem grandes nuances ou desafios, Keaton se mantém no piloto automático, entregando um desempenho competente, mas sem grandes momentos.

Assista também: 
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Homem e mulher conversando sentados sorridentes

A reabilitação de Naomie, por exemplo, parece um detalhe secundário, pois a dinâmica familiar não passa por mudanças significativas durante sua ausência. O filme trata o problema como um obstáculo temporário, sem explorar suas verdadeiras implicações para os filhos ou para o próprio Andy. A sensação é de que tudo transcorre de maneira previsível, evitando apimentar a comédia dramática com conflitos pertinentes para o crescimento legítimo do personagem.

O tom geral de Pai do Ano é tão brando que, mesmo nas cenas que deveriam gerar maior impacto emocional, a narrativa nunca consegue provocar uma reação genuína do espectador. O filme é um passatempo agradável, porém esquecível, seguindo a mesma linha do primeiro longa da diretora: De Volta Para Casa (2017). Esta obra, portanto, nunca se aprofunda no potencial dramático de sua premissa, optando por um tom açucarado que torna a jornada de Andy mais conveniente do que realmente transformadora.

 

Distribuído pela Diamond Films, Pai do Ano (Goodrich) estreia nos cinemas brasileiros em 20 de março de 2025.


Assista:
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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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A narrativa se apoia nos clichês do gênero, trazendo a clássica história do homem deixado sozinho com os filhos que, de forma quase milagrosa, aprende a ser pai – tudo isso sem grandes sacrifícios ou consequências reais. Pai do Ano ganha um pouco mais de peso com a presença de Grace (Mila Kunis), a filha mais velha de Andy, que está grávida e ressente a ausência do pai. Essa camada emocional, no entanto, não é verdadeiramente aprofundada e funciona mais como um aditivo dramático do que um conflito genuíno.

Homem careca gesticulando em escritório cheio de livros

Michael Keaton entrega uma performance carismática, fazendo de Andy um sujeito falho, mas afável. Sua jornada de redenção lembra inevitavelmente a de Robin Williams em Uma Babá Quase Perfeita (1993), de Chris Columbus, no qual o personagem descobre tardiamente as alegrias e desafios da paternidade. Mila Kunis, por sua vez, adiciona nuances ao papel de Grace, traduzindo bem o ressentimento e a mágoa de uma filha esquecida. Entretanto, seu arco dramático parece subaproveitado, refletindo a maneira como Andy, e o próprio roteiro, não lhe dão a devida atenção. 

Uma das cenas bonitas do filme ocorre quando Andy apresenta Casablanca (1942) aos gêmeos. Enquanto Andy se encanta em compartilhar um clássico do cinema, ele ignora se o conteúdo é apropriado para crianças. O momento simboliza uma conexão entre pai e filhos, mas também revela a imaturidade do protagonista e seu lento crescimento como figura paterna. A sequência reflete sua dificuldade em compreender as reais necessidades dos filhos e a dificuldade de estabelecer vínculos genuínos com eles.

Pai e filhos olhando tablet juntos em casa

Embora apresente momentos cativantes de interação familiar e um humor leve, Pai do Ano sofre com problemas típicos do gênero: personagens secundários pouco desenvolvidos e uma trilha sonora sentimental. A subtrama da galeria de arte prestes a fechar nunca soa como uma verdadeira ameaça, pois Andy não aparenta aflição pela sua situação financeira — um problema comum em comédias que tentam abordar crises existenciais de personagens ricos sem nunca comprometê-los com consequências reais.

Além disso, Pai do Ano se insere como um filme genérico dentro da retomada da carreira de Michael Keaton, que voltou aos holofotes após sua nomeação ao Oscar por Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) (2014), de Alejandro González Iñárritu, e entregou trabalhos marcantes como Spotlight: Segredos Revelados (2015) e Fome de Poder (2016). Mesmo retornando ao seu icônico papel de Beetlejuice na sequência de Tim Burton no ano passado, seu personagem Andy Goodrich parece o mais pálido dessa trajetória. Sem grandes nuances ou desafios, Keaton se mantém no piloto automático, entregando um desempenho competente, mas sem grandes momentos.

Homem e mulher conversando sentados sorridentes

A reabilitação de Naomie, por exemplo, parece um detalhe secundário, pois a dinâmica familiar não passa por mudanças significativas durante sua ausência. O filme trata o problema como um obstáculo temporário, sem explorar suas verdadeiras implicações para os filhos ou para o próprio Andy. A sensação é de que tudo transcorre de maneira previsível, evitando apimentar a comédia dramática com conflitos pertinentes para o crescimento legítimo do personagem.

O tom geral de Pai do Ano é tão brando que, mesmo nas cenas que deveriam gerar maior impacto emocional, a narrativa nunca consegue provocar uma reação genuína do espectador. O filme é um passatempo agradável, porém esquecível, seguindo a mesma linha do primeiro longa da diretora: De Volta Para Casa (2017). Esta obra, portanto, nunca se aprofunda no potencial dramático de sua premissa, optando por um tom açucarado que torna a jornada de Andy mais conveniente do que realmente transformadora.

 

Distribuído pela Diamond Films, Pai do Ano (Goodrich) estreia nos cinemas brasileiros em 20 de março de 2025.

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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