domingo , 16 março , 2025

Crítica | ‘O Melhor Amigo’ é uma cândida comédia romântica que escorrega aqui e ali


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Produções de comédia romântica têm um apreço significativo por cinéfilos por, na maioria das vezes, não se levarem a sério e construírem histórias que nos satisfazem pela simplicidade e pela familiaridade. Porém, boa parte dos espectadores está acostumada com obras internacionais e que possuem uma cultura diferente da brasileira – motivo pelo qual, quando cineastas brasileiras resolvem temperar essas obras com trejeitos nacionais, somos atraídos para nos vermos representados em situações cômicas e divertidas que nos proporcionam um escapismo aprazível. E essa é a ideia por trás da rom-com O Melhor Amigo, que chegou aos cinemas brasileiros no último dia 13 de março.

A trama é centrada em Lucas (Vinicius Teixeira), um jovem gay que nunca teve sorte no amor: o primeiro beijo que deu, ainda na faculdade, o fez entender quem era – mas um suposto par romântico acabou sumindo logo após o ocorrido, levando-o a crer que alguma estava errada com ele; quando mais velho, seu melhor amigo e confidente, Martin (Leo Bahia), aparece na rua de casa com um carro de som para se declarar a ele, compelindo-o a se reclusar e a tirar umas férias para pensar a respeito de tudo o que aconteceu. Hospedando-se em um hotel no centro de uma cidade turística cearense, ele se vê em meio a inúmeras possibilidades até cruzar caminho com Felipe (Gabriel Fuentes), o mesmo amor da faculdade que acreditava ter perdido – e sentimentos escondidos há muito tempo começam a ressurgir em um turbilhão de emoções.



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A ideia não é nem um pouco original, mas isso pouco importa: logo de cara, podemos compreender a construção de personalidade de Lucas, um garoto introvertido e desiludido que não sabe o que quer e não consegue se jogar de cabeça em quase nada, temendo que algo de errado aconteça e que ele seja responsável por causar problemas. E, dentro desse espectro, o vemos, por exemplo, participando de um karaokê drag em um bar local, soltando a voz antes de se deixar levar por pensamentos intrusivos e sair correndo – talvez sentindo que não merecesse sentir aquela felicidade, posando como usurpador de si mesmo. Algo similar acontece quando ele é chamado para participar de um trisal no mesmo hotel em que está, ou em seu controverso relacionamento com Felipe, ou até mesmo no modo como trata Martin quando ele o visita de surpresa.

Allan Deberton fica a encargo da direção e transforma o curta-metragem homônimo que comandou lá em 2013 e que trouxe Jesuíta Barbosa e Victor Sousa como protagonistas, em uma história sólida que dialoga com praticamente qualquer um que lhe assista – deslizando aqui e ali por não conseguir se desvencilhar de convencionalismos próprios do gênero. E, aliando-se ao trio de roteiristas formado por André Araújo, Otávio Chamorro e Raul Damasceno, Deberton arquiteta uma trama funcional e prática que traz elementos de drama e comédia a uma jornada de descobrimento que permite que Lucas se livre das amarras da autossabotagem. De fato, as personas que compõe o enredo não são tão complexas como poderiam ser, mas funcionam como emblemas sociais.


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A própria fotografia é pensada com cautela, mesmo não funcionando todas as vezes: Beto Martins sabe transitar entre a solidão de Lucas ao apostar na sobriedade de paisagens abertas e que o confinam como o único personagem cênico, ou colocando-o na claustrofobia de um beco escuro ou de uma boate em que se sente estranho e sozinho mesmo na companhia de outras pessoas. Porém, ao lado de Felipe, esse respaldo dimensional é pincelado com cores mais quentes e um escopo mais aberto – culminando, nos momentos finais, em uma junção de ambas as partes que garante a conclusão de um coming-of-age necessário e bem-vindo.

Os principais deslizes, entretanto, destinam-se ao elenco – não por não fazerem um bom trabalho, mas por serem desperdiçados em meio a diálogos fracos e a entregas medíocres, por assim dizer. Teixeira encarna Lucas com diversão e tem uma voz muito boa para o inesperado e breve musical que se desenrola em tela, mas não nutre de quase química alguma ao lado de Fuentes ou Bahia; Claudia Ohana, interpretando a mística Estrela Dalva, faz breves participações que apenas servem como apoio para o protagonista – funcionando como uma espécie de “mentora” que não tem o peso que merecia; e Solange Teixeira parece repetir as mesmas coisas que já fez em ‘A Sogra que te Pariu’ ao encarnar Roberta. No final das contas, os personagens funcionam melhor quando estão restritos a seus respectivos arcos do que em um conjunto desengonçado.

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O Melhor Amigo traz mensagens de bonança através de uma narrativa cândida e bem apessoada, que reaviva nosso interesse em comédias românticas nacionais e nos presenteia com um inesperado musical que dialoga com o que deseja entregar.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Produções de comédia romântica têm um apreço significativo por cinéfilos por, na maioria das vezes, não se levarem a sério e construírem histórias que nos satisfazem pela simplicidade e pela familiaridade. Porém, boa parte dos espectadores está acostumada com obras internacionais e que possuem uma cultura diferente da brasileira – motivo pelo qual, quando cineastas brasileiras resolvem temperar essas obras com trejeitos nacionais, somos atraídos para nos vermos representados em situações cômicas e divertidas que nos proporcionam um escapismo aprazível. E essa é a ideia por trás da rom-com O Melhor Amigo, que chegou aos cinemas brasileiros no último dia 13 de março.

A trama é centrada em Lucas (Vinicius Teixeira), um jovem gay que nunca teve sorte no amor: o primeiro beijo que deu, ainda na faculdade, o fez entender quem era – mas um suposto par romântico acabou sumindo logo após o ocorrido, levando-o a crer que alguma estava errada com ele; quando mais velho, seu melhor amigo e confidente, Martin (Leo Bahia), aparece na rua de casa com um carro de som para se declarar a ele, compelindo-o a se reclusar e a tirar umas férias para pensar a respeito de tudo o que aconteceu. Hospedando-se em um hotel no centro de uma cidade turística cearense, ele se vê em meio a inúmeras possibilidades até cruzar caminho com Felipe (Gabriel Fuentes), o mesmo amor da faculdade que acreditava ter perdido – e sentimentos escondidos há muito tempo começam a ressurgir em um turbilhão de emoções.

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A ideia não é nem um pouco original, mas isso pouco importa: logo de cara, podemos compreender a construção de personalidade de Lucas, um garoto introvertido e desiludido que não sabe o que quer e não consegue se jogar de cabeça em quase nada, temendo que algo de errado aconteça e que ele seja responsável por causar problemas. E, dentro desse espectro, o vemos, por exemplo, participando de um karaokê drag em um bar local, soltando a voz antes de se deixar levar por pensamentos intrusivos e sair correndo – talvez sentindo que não merecesse sentir aquela felicidade, posando como usurpador de si mesmo. Algo similar acontece quando ele é chamado para participar de um trisal no mesmo hotel em que está, ou em seu controverso relacionamento com Felipe, ou até mesmo no modo como trata Martin quando ele o visita de surpresa.

Allan Deberton fica a encargo da direção e transforma o curta-metragem homônimo que comandou lá em 2013 e que trouxe Jesuíta Barbosa e Victor Sousa como protagonistas, em uma história sólida que dialoga com praticamente qualquer um que lhe assista – deslizando aqui e ali por não conseguir se desvencilhar de convencionalismos próprios do gênero. E, aliando-se ao trio de roteiristas formado por André Araújo, Otávio Chamorro e Raul Damasceno, Deberton arquiteta uma trama funcional e prática que traz elementos de drama e comédia a uma jornada de descobrimento que permite que Lucas se livre das amarras da autossabotagem. De fato, as personas que compõe o enredo não são tão complexas como poderiam ser, mas funcionam como emblemas sociais.

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A própria fotografia é pensada com cautela, mesmo não funcionando todas as vezes: Beto Martins sabe transitar entre a solidão de Lucas ao apostar na sobriedade de paisagens abertas e que o confinam como o único personagem cênico, ou colocando-o na claustrofobia de um beco escuro ou de uma boate em que se sente estranho e sozinho mesmo na companhia de outras pessoas. Porém, ao lado de Felipe, esse respaldo dimensional é pincelado com cores mais quentes e um escopo mais aberto – culminando, nos momentos finais, em uma junção de ambas as partes que garante a conclusão de um coming-of-age necessário e bem-vindo.

Os principais deslizes, entretanto, destinam-se ao elenco – não por não fazerem um bom trabalho, mas por serem desperdiçados em meio a diálogos fracos e a entregas medíocres, por assim dizer. Teixeira encarna Lucas com diversão e tem uma voz muito boa para o inesperado e breve musical que se desenrola em tela, mas não nutre de quase química alguma ao lado de Fuentes ou Bahia; Claudia Ohana, interpretando a mística Estrela Dalva, faz breves participações que apenas servem como apoio para o protagonista – funcionando como uma espécie de “mentora” que não tem o peso que merecia; e Solange Teixeira parece repetir as mesmas coisas que já fez em ‘A Sogra que te Pariu’ ao encarnar Roberta. No final das contas, os personagens funcionam melhor quando estão restritos a seus respectivos arcos do que em um conjunto desengonçado.

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O Melhor Amigo traz mensagens de bonança através de uma narrativa cândida e bem apessoada, que reaviva nosso interesse em comédias românticas nacionais e nos presenteia com um inesperado musical que dialoga com o que deseja entregar.

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