Milton Nascimento. Nascido no ano de 1942, é o carioca mais mineiro de todos. Ainda na infância, mudou-se do Rio de Janeiro para Minas Gerais, onde estabeleceu residência e onde permanece até hoje. Considerado por muitos uma das vozes masculinas mais lindas do país, o multiartista, cantor e compositor também teve sua arte enxergada por artistas de outras partes do mundo – e é esse olhar, o de seus admiradores, que dão o tom do documentário ‘Milton Bituca Nascimento’, que teve sua pré-estreia mundial na 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes e que chega ao circuito nacional a partir do dia 20 de março (com sessões antecipadas em Minas na semana prévia).
No ano de 2022 Milton Nascimento saiu, com sua banda, em uma mega turnê mundial intitulada “A Última Sessão de Música”, anunciada como a turnê de despedida dos palcos de Bituca. Com o anúncio, milhares de pessoas correram para conseguir ingressos. Na coroação dessas últimas apresentações, surge o documentário ‘Milton Bituca Nascimento’, que acompanha justamente a última parte do giro do artista, passando pelos Estados Unidos, Europa e culminando na derradeira apresentação em Belo Horizonte.
Por cerca de duas horas o espectador acompanha dezenas e dezenas de músicos darem depoimentos sobre Milton Nascimento. Neste ponto, impressiona a profundidade da pesquisa da equipe, que conseguiu coletar imagens de artistas dos mais variados segmentos, desde o cineasta Spike Lee ao cantor Fito Páez, passando pelos brasileiros Simone, Ivan Lins e Gilberto Gil. Rolou até mesmo depoimento de Chico Buarque reagindo à sua imagem no palco com o homenageado (imagem esta que virou meme na internet, o que é genial da equipe de pesquisa). Passeando por diversas fases da carreira do cantor, já no terço final a diretora Flavia Moraes abre espaço para artistas mais novos que também admitam Bituca, como Maria Gadú, Criolo e Mano Brown, passando, inclusive, pelos músicos que compõem a banda do homenageado.
Mas, com tanta gente dando depoimento, é de se esperar que haja pessoas que aparecem ali que são desconhecidas do grande público, principalmente dentre os estrangeiros (muitos dos quais os nomes não aparecem na primeira aparição deles e delas na telona). Também com tanto depoimento, às vezes o papo fica repetitivo, de modo que quando aparece o próprio Bituca intervindo, a atenção do espectador é reconquistada.
Uma vez que acompanhamos as últimas apresentações do cantor, também vemos pedaços de seus shows em outros países, com convidados internacionais (dentre os quais, Esperanza Spalding, a cantora que o acompanhou no Grammy essa semana). De show em show, o espectador consegue ouvir partes das músicas principais do artista, mas, nenhuma das canções é tocada inteiramente, o que pode gerar certa frustração.
Com muito, mas muito conteúdo e grande produção, que incluiu imagens aéreas do último show de Milton, o belo documentário ‘Milton Bituca Nascimento’ é extremamente técnico e traça um perfil do Milton artista pelos olhos de seus famosos admiradores artistas. Por essa escolha, saímos do documentário sem saber muito sobre a história de vida do homenageado, mas, ao mesmo tempo, saímos com a sensação de que é um artista extraordinário, inexplicável e cuja técnica é incompreensível, posto que inalcançável. É uma bela homenagem dos colegas de música que se inspiram em Bituca, com emocionantes imagens de sua última turnê. Um cantor único, para ficar guardado do lado esquerdo do peito.