segunda-feira , 20 janeiro , 2025

Crítica | Maria – Angelina Jolie Não Encontra o Tom no Sonolento Filme de Pablo Larraín

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O diretor Pablo Larraín tem um olhar melancólico e solitário com relação ao passado, principalmente com relação ao período entre as décadas de 1960 e 2000, faixa de tempo na qual situa as principais produções de seu currículo: ‘No’ (sobre o plebiscito chileno pela redemocratização, ocorrido em 1988), ‘Jackie’ (sobre a ex-primeira dama estadunidense, Jackie Kennedy, lidando com a morte do marido, em 1963), ‘Spencer’ (sobre a vida de Lady Di antes de se tornar a princesa britânica, focado no ano de 1991) e ‘O Conde’ (uma sátira com a figura de Pinochet, ditador chileno entre os anos 1974 e 1990). Todos esses filmes têm em comum serem centrados em períodos e pessoas históricas conhecidas mundialmente, e esse é um traço desse diretor. Atualmente, Larraín vinha produzindo um projeto sobre mulheres do século XX, iniciada por ‘Jackie’, seguida por ‘Spencer’ e terminada agora com ‘Maria’, filme que chegou ao circuito brasileiro essa semana.

Pessoa com óculos e suéter branco, olhando através cortina.

Com uma inegável carreira de sucesso como a maior cantora de ópera da atualidade, Maria Callas (Angelina Jolie, de ‘Lara Croft: Tomb Raider’) se sente extremamente sozinha e solitária, certa de que está perdendo sua voz e seu encanto por cantar. Medicada a maior parte do tempo em que está acordada, Maria sente dificuldades para distinguir o que é realidade e o que é delírio, oriundo dos efeitos colaterais das medicações. Refugiada em seu apartamento em Paris, Maria vai sentindo a depressão tomar conta de sua vida e levar-lhe as poucas forças que lhe restam numa jornada que a faz repensar toda sua vida poucos dias antes de sua morte.

Pablo Larraín construiu uma trilogia singular com seu projeto não tanto pela escolha das biografadas, mas sim, acima de tudo, pelo olhar do cineasta sobre essas mulheres do século XX. Tanto em ‘Jackie’ quanto em ‘Spencer’ – e agora, principalmente, em ‘Maria’ – as mulheres de sucesso (as duas primeiras foram esposas de poderosos governantes das maiores potências mundiais da época, Estados Unidos e Reino Unido, e a última se tornou não só amante de um dos caras mais ricos e influentes de sua época [Aristóteles Onassis, interpretado no filme por Haluk Bilginer] como também conheceu e vivenciou o momento em que Onassis conhece e posteriormente “rouba” Jackie Kennedy do então presidente) são extremamente melancólicas, infelizes e à beira da depressão.

Artista no palco sob luzes brilhantes.

A forma como Larraín constrói a solidão feminil nessas personagens é bem-feita (em ‘Spencer’ temos câmeras fechadas e ambientes escuros, sufocantes, enquanto a mesma sensação é passada em ‘Maria’ da forma oposta, em ambientes amplos, solares e planos mais abertos). Mas o roteiro de Steven Knight não ajuda a biografada em muitos aspectos. Primeiro, ele repete o mesmo molde utilizado para biografar ‘Spencer’, então, quem viu este fica o tempo todo com a sensação de já ter visto ao filme, mesmo se tratando de outra mulher em outra época; segundo, os roteiros de Steven navegam no marasmo para preencher os atos, o que acaba tornando os filmes cansativos de assistir, e em ‘Maria’ a coisa pesa nos delírios que funcionam como escape para contar a vida da cantora, mas, a toda hora que volta para o tempo presente, é como se a história perdesse fôlego.

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Angelina Jolie, uma vez mais, ressurge belíssima nos enquadramentos, mas não consegue sumir na personagem. Ao contrário, em nenhum momento o espectador se conecta com Maria Callas, pois o tempo todo tudo que vemos é Angelina Jolie em ação, e fazendo aquilo que já conhecemos dela: os olhares lânguidos de cima a baixo, os braços sempre dobrados ao meio com mãos juntadas, cenas intermináveis de close sem que a atriz fale nada, numa eterna contemplação. Para uma cinebiografia, não conseguirmos ver o biografado na história que é contada é um ponto que acaba pesando contra na produção.

Cotado como um dos filmes com potencial de indicações nessa temporada de premiações nórdicas, ‘Maria’ retrata os últimos dias da famosa cantora de ópera com bastante melancolia e languidez, bem distante do alcance que a cantora alcançou em vida.

Mulher de frente ao espelho em sala vintage elegante.

Sarah Michelle Gellar e Patrick Dempsey falam sobre Dexter, a carreira em filmes de terror e PÂNICO7

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Janda Montenegrohttps://twilen.xyz
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Pessoa com óculos e suéter branco, olhando através cortina.

Com uma inegável carreira de sucesso como a maior cantora de ópera da atualidade, Maria Callas (Angelina Jolie, de ‘Lara Croft: Tomb Raider’) se sente extremamente sozinha e solitária, certa de que está perdendo sua voz e seu encanto por cantar. Medicada a maior parte do tempo em que está acordada, Maria sente dificuldades para distinguir o que é realidade e o que é delírio, oriundo dos efeitos colaterais das medicações. Refugiada em seu apartamento em Paris, Maria vai sentindo a depressão tomar conta de sua vida e levar-lhe as poucas forças que lhe restam numa jornada que a faz repensar toda sua vida poucos dias antes de sua morte.

Pablo Larraín construiu uma trilogia singular com seu projeto não tanto pela escolha das biografadas, mas sim, acima de tudo, pelo olhar do cineasta sobre essas mulheres do século XX. Tanto em ‘Jackie’ quanto em ‘Spencer’ – e agora, principalmente, em ‘Maria’ – as mulheres de sucesso (as duas primeiras foram esposas de poderosos governantes das maiores potências mundiais da época, Estados Unidos e Reino Unido, e a última se tornou não só amante de um dos caras mais ricos e influentes de sua época [Aristóteles Onassis, interpretado no filme por Haluk Bilginer] como também conheceu e vivenciou o momento em que Onassis conhece e posteriormente “rouba” Jackie Kennedy do então presidente) são extremamente melancólicas, infelizes e à beira da depressão.

Artista no palco sob luzes brilhantes.

A forma como Larraín constrói a solidão feminil nessas personagens é bem-feita (em ‘Spencer’ temos câmeras fechadas e ambientes escuros, sufocantes, enquanto a mesma sensação é passada em ‘Maria’ da forma oposta, em ambientes amplos, solares e planos mais abertos). Mas o roteiro de Steven Knight não ajuda a biografada em muitos aspectos. Primeiro, ele repete o mesmo molde utilizado para biografar ‘Spencer’, então, quem viu este fica o tempo todo com a sensação de já ter visto ao filme, mesmo se tratando de outra mulher em outra época; segundo, os roteiros de Steven navegam no marasmo para preencher os atos, o que acaba tornando os filmes cansativos de assistir, e em ‘Maria’ a coisa pesa nos delírios que funcionam como escape para contar a vida da cantora, mas, a toda hora que volta para o tempo presente, é como se a história perdesse fôlego.

Angelina Jolie, uma vez mais, ressurge belíssima nos enquadramentos, mas não consegue sumir na personagem. Ao contrário, em nenhum momento o espectador se conecta com Maria Callas, pois o tempo todo tudo que vemos é Angelina Jolie em ação, e fazendo aquilo que já conhecemos dela: os olhares lânguidos de cima a baixo, os braços sempre dobrados ao meio com mãos juntadas, cenas intermináveis de close sem que a atriz fale nada, numa eterna contemplação. Para uma cinebiografia, não conseguirmos ver o biografado na história que é contada é um ponto que acaba pesando contra na produção.

Cotado como um dos filmes com potencial de indicações nessa temporada de premiações nórdicas, ‘Maria’ retrata os últimos dias da famosa cantora de ópera com bastante melancolia e languidez, bem distante do alcance que a cantora alcançou em vida.

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