O império Inca foi um dos maiores e mais longevos da história da humanidade. Localizado pelos Andes, seu território se estendia pelo que hoje chamamos de Peru, Bolívia, Equador, Argentina, Colômbia e Chile. Um povo que existiu e resistiu até a invasão europeia, que saqueou o ouro e dizimou as populações. Ainda assim, boa parte da cultura inca e suas características permanecem vivas nas populações desses territórios, e um pouquinho dela é apresentada no longa de animação ‘Kayara – A Princesa Inca’, que chegou essa semana aos cinemas brasileiros.
Kayara (na voz original de Naomi Serrano) é uma jovem menina, filha de um grande chasqui – que são os mensageiros do Império Inca, que correm de um lado para o outro levando mensagens importantes dentro do território. Seu sonho é também se tornar uma grande chasqui, mas, é inútil, afinal esse posto é reservado apenas para homens. Um dia ela conhece um rapaz, Paullu (Charles Gonzales), que mais tarde se torna o grande Imperador Inca. Porém, nem mesmo a amizade entre eles é capaz de fazer com que as tradições sejam revistas, por isso, quando há um torneio para definir os novos chasquis do império, Kayara vê aí a oportunidade de provar seu valor a todos.
Com uma hora e vinte de duração, ‘Kayara – A Princesa Inca’ é um filme que traz, na verdade, quatro historinhas que se alinham num período de tempo de mais ou menos uma década e meia. A primeira, curtinha, mostra o nascimento da protagonista, sinalizando como desde então o fato de ter nascido uma garota determina sua impossibilidade de ser uma chasqui; a segunda retrata o grande desafio de vencer a corrida dos chasquis; quando a gente acha que o filme é só isso, o roteiro de Brian Cleveland, Jason Cleveland e Cesar Zelada em vez de prolongar essa aventura com obstáculos que dificultem o sucesso do desafio, optam por encurtá-la e, ao revés, trazer duas novas historietas, fazendo com que o filme, mais do que contar apenas um episódio da vida desses personagens, apresente diversas facetas da cultura incaica.
Mesmo fofinho, o filme acaba trazendo algumas liberdades que causarão estranheza àqueles que conhecem mais a História, como a presença de um porquinho-da-Índia no filme (passado, historicamente, mais ou menos no início do século XVI); a questão é que o nome correto desse bicho, nativo do território sul-americano, é cui, e o fato de ser chamado de outra coisa provoca erro na compreensão do espectador. O mesmo vale para termos como “tribo” utilizado por personagens indígenas na trama, quando o correto seria “aldeia”.
‘Kayara – A Princesa Inca’ é uma animação que tem o coração no lugar certo, ainda que faça escolhas em prol da universalização do filme. Em um cenário em que as ofertas de animações são majoritariamente centradas nas culturas nórdicas, ter uma opção para apresentar aos pequenos um pouco das culturas sul-americanas é sempre uma pedida , e ‘Kayara – A Princesa Inca’ faz isso de uma maneira agradável e fofinha numa aventurinha para entreter os pequenos de qualquer país. Uma opção didática e lúdica de cinema em família.