Mel Gibson é um artista que, de uma forma ou de outra, está sempre nos holofotes. Conjuntamente com uma premiada carreira como ator, o nova-iorquino veio também construindo uma sólida carreira como diretor, em que assinou trabalhos como ‘Apocalypto’ e ‘A Paixão de Cristo’. E agora, acrescentando mais um título à sua consolidada carreira por trás das câmeras, Mel volta aos cinemas no comando do thriller ‘Ameaça no Ar’, que chega a partir de hoje ao circuito nacional.
Winston (Topher Grace, de ‘That ’70s Show’) é uma testemunha-chave que está tentando se esconder de todos numa cabana no Alasca, quando é encontrado pela agente federal Madolyn (Michelle Dockery, de ‘Downton Abbey’). Contrariado, Winston topa ser transportado de volta à Nova York para testemunhar, em troca de proteção, porém, ao subirem no avião de pequeno porte, ele e Madolyn descobrem que o piloto Daryl (Mark Wahlberg, de ‘Ted’) não é quem diz ser, e, a partir desse momento, o trajeto de uma hora e meia até a pista de pouso mais próxima se torna uma verdadeira luta pela sobrevivência para Madolyn e Winston.
Uma das coisas mais legais de ‘Ameaça no Ar’ é que ele é bastante pontual, com apenas uma hora e trinta de duração. Isso faz com que as três etapas de evolução do longa sejam bem marcadas – o que, para um filme do gênero ação, facilita na absorção do enredo pelo espectador.
Isto dito, é preciso separar o filme em três análises separadas: direção, roteiro e atuações. No primeiro quesito, Mel Gibson faz um bom trabalho construindo cenas de adrenalina pura, principalmente na parte do filme que se passa no ar. Não é fácil ser criativo em um ambiente fechado e limitador como uma cabine de avião, e Mel Gibson encontra boas saídas como diretor para posicionar a câmera em ângulos alternativos para aumentar a sensação de suspense da trama.
Se por um lado a edição é boa, o roteiro de Jared Rosenberg acaba prejudicando o ritmo e a suspensão da descrença de ‘Ameaça no Ar’. Sem ter muito o que contar, principalmente no segundo ato, o roteiro acaba repetindo situações para preencher o tempo, entregando elementos de maneira gratuita e encontrando soluções pouco críveis para resolver armadilhas criadas pelo próprio texto. Ou seja, é preciso certa dose de credulidade para aceitar uma policial federal que não tem forças para arrastar um homem no chão, mas consegue fechar uma janela aberta em um avião em queda livre; ou para aceitar que essa mesma policial, diante de uma ameaça de um cara que claramente quer matá-la, ela simplesmente não o prende na primeira oportunidade, deixando-o solto e desacordado – tão somente para ele voltar e poder causar pânico de novo.
Por conta disso, Mark Wahlberg acaba criando um personagem caricato demais, para além das outras características grosseiras de Daryl. Sem ter muito para onde ir com seu personagem, Topher Grace acaba se repetindo em trejeitos até finalmente o ato final. Então, Michelle Dockery assumiu a responsabilidade para si e tomou o controle do avião ‘Ameaça no Ar’, entregando competência para além do texto.
Se for possível deixar a história de lado, ‘Ameaça no Ar’ é um filme que prende pelas ótimas cenas de ação e thriller, fazendo jus ao seu título.