terça-feira , 4 março , 2025

Crítica 2 | ‘O Macaco’ mira na irreverência, mas acerta em uma cansativa profusão artística


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Stephen King não é o considerado o mestre da literatura de terror por qualquer motivo: ao longo de sua prolífica carreira, o romancista deu vida a histórias que marcaram e que continuam a marcar gerações, imbuindo narrativas aparentemente clichês com comentários e temáticas que dialogam com a psique humana e a ambiguidade social existente em cada indivíduo (o lobo e o cordeiro, por assim dizer). Não é surpresa que inúmeros de seus escritos já tenham sido adaptados para os cinemas e para a televisão, como ‘IT: A Coisa’, ‘Jogo Perigoso’, ‘O Iluminado’, ‘Carrie, a Estranha’ e tantos outros. Agora, somos convidados a revisitar um clássico conto de King com a adaptação fílmica de O Macaco.

Publicado originalmente em 1982 e depois integrando a antologia ‘Tripulação de Esqueletos’ (‘Skeleton Crew’, no original), o enredo levado às telonas sofre uma grande alteração para comportar o tempo de um filme – e acompanha Hal Shelburn (Theo James), um homem que carrega um trauma de infância envolvendo um macaco de brinquedo. Afastado de seu irmão gêmeo Bill e tendo perdido o restante da família, além de não ter qualquer relação com seu único filho, Petey (Colin O’Brien), Hal acredita ter se livrado dessa maldita relíquia que julga ser responsável por uma série de mortes bizarras ao longo dos anos – até descobrir que ela está de volta e sedenta por mais sangue e mais terror. Trazendo inspirações não apenas dos escritos de Edgar Allan Poe como do conto ‘A Pata do Macaco’, de W.W. Jacobs, a ideia do projeto é sólida e instigante, mas morre na praia ao não saber que direção seguir.



macaco 3

O projeto é comandado por Osgood Perkins, que mostrou suas incríveis habilidades fílmicas com o recente e aplaudido Longlegs – Vínculo Mortal’ – um poderoso thriller de arte que encantou o público ao redor do mundo e apresentou uma perspectiva um tanto quanto original para o gênero de terror. Aqui, porém, Perkins parece perdido em relação ao que fazer com o material original de King, mesmo ficando a encargo do roteiro: de um lado, cremos ter sido convidados para uma aventura de terror clássica que logo se mostra permeada com incursões cômicas que apenas provam que o longa foi vendido da maneira errada através dos materiais promocionais (um dos aspectos mais frustrantes, diga-se de passagem); de outro, há diálogos cansativos e clichês que não ajudam a desenvolver em nada a narrativa além de criar metáforas que se engasgam na própria egolatria.

James, por sua vez, faz um bom trabalho com o papel duplo de Hal e Bill – e sua contraparte mais jovem, encarnada por Christian Convery, dá um giro de 360º em comparação à sua performance em ‘Sweet Tooth’. Ambos mostram-se comprometidos com o arco que lhes são dados e traçam um enredo que faz sentido dentro das limitações autoimpostas. Todavia, quando paramos para observar, não há qualquer desenvolvimento que faça com que o público se identifique com o protagonista para além de duas personalidades distintas que passam a vida em conflito, culminando em uma reviravolta e uma subsequente explicação que é premeditada desde os primeiros segundos. Ademais, o restante do elenco não tem muito o que fazer com falas fracas e esquecíveis, transformando um suposto “terrir” em uma comédia canastrona sem pé, nem cabeça.


o macaco

A despeito do entretenimento puro, a obra também falha em quase todos os elementos: em se tratando de um terror, o caráter intrínseco de histórias do gênero simplesmente não existe; no tocante à comédia, o exagero criativo mancha uma estrutura que, de fato, funcionou em iterações menos conscientes, como ‘Espontânea’; já no quesito slasher, as sequências de morte soam como um rip-off risível de ‘Pânico’ e ‘Premonição’ – em que nem os efeitos-cascada que fazem parte de construções sobrenaturais têm sentido ou o impacto necessário, optando por literais explosões cujo significado é ininteligível mesmo após os créditos finais rolarem.

O filme não é destituído por completo de bons momentos – que incluem um início bem estruturado e a presença magnética de Tatiana Maslany como Lois, mãe dos gêmeos, e sua eventual ruína em uma das cenas mais chocantes do longa. De maneira similar, o cuidado imagético chama a atenção pelo uso de cores fortes, em especial as tonalidades de vermelho e de amarelo, e pela condução estética de várias sequências – brincando com jogos de luz e sombra que prestam homenagens a incursões similares em um respiro criativo.

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o macaco

Infelizmente, os ápices positivos não são fortes o suficiente para ofuscar os múltiplos e amadores deslizes que se despendem em O Macaco – uma constatação tristonha, de certa maneira, considerando o trabalho incrível que Perkins havia feito com sua produção anterior. De qualquer forma, é provável que boa parte dos espectadores saia dos cinemas satisfeito caso não leve a sério essa mixórdia cinematográfica, mas, na mera opinião deste que vos escreve, existem produções bem melhores que merecem nosso tempo.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Publicado originalmente em 1982 e depois integrando a antologia ‘Tripulação de Esqueletos’ (‘Skeleton Crew’, no original), o enredo levado às telonas sofre uma grande alteração para comportar o tempo de um filme – e acompanha Hal Shelburn (Theo James), um homem que carrega um trauma de infância envolvendo um macaco de brinquedo. Afastado de seu irmão gêmeo Bill e tendo perdido o restante da família, além de não ter qualquer relação com seu único filho, Petey (Colin O’Brien), Hal acredita ter se livrado dessa maldita relíquia que julga ser responsável por uma série de mortes bizarras ao longo dos anos – até descobrir que ela está de volta e sedenta por mais sangue e mais terror. Trazendo inspirações não apenas dos escritos de Edgar Allan Poe como do conto ‘A Pata do Macaco’, de W.W. Jacobs, a ideia do projeto é sólida e instigante, mas morre na praia ao não saber que direção seguir.

macaco 3

O projeto é comandado por Osgood Perkins, que mostrou suas incríveis habilidades fílmicas com o recente e aplaudido Longlegs – Vínculo Mortal’ – um poderoso thriller de arte que encantou o público ao redor do mundo e apresentou uma perspectiva um tanto quanto original para o gênero de terror. Aqui, porém, Perkins parece perdido em relação ao que fazer com o material original de King, mesmo ficando a encargo do roteiro: de um lado, cremos ter sido convidados para uma aventura de terror clássica que logo se mostra permeada com incursões cômicas que apenas provam que o longa foi vendido da maneira errada através dos materiais promocionais (um dos aspectos mais frustrantes, diga-se de passagem); de outro, há diálogos cansativos e clichês que não ajudam a desenvolver em nada a narrativa além de criar metáforas que se engasgam na própria egolatria.

James, por sua vez, faz um bom trabalho com o papel duplo de Hal e Bill – e sua contraparte mais jovem, encarnada por Christian Convery, dá um giro de 360º em comparação à sua performance em ‘Sweet Tooth’. Ambos mostram-se comprometidos com o arco que lhes são dados e traçam um enredo que faz sentido dentro das limitações autoimpostas. Todavia, quando paramos para observar, não há qualquer desenvolvimento que faça com que o público se identifique com o protagonista para além de duas personalidades distintas que passam a vida em conflito, culminando em uma reviravolta e uma subsequente explicação que é premeditada desde os primeiros segundos. Ademais, o restante do elenco não tem muito o que fazer com falas fracas e esquecíveis, transformando um suposto “terrir” em uma comédia canastrona sem pé, nem cabeça.

o macaco

A despeito do entretenimento puro, a obra também falha em quase todos os elementos: em se tratando de um terror, o caráter intrínseco de histórias do gênero simplesmente não existe; no tocante à comédia, o exagero criativo mancha uma estrutura que, de fato, funcionou em iterações menos conscientes, como ‘Espontânea’; já no quesito slasher, as sequências de morte soam como um rip-off risível de ‘Pânico’ e ‘Premonição’ – em que nem os efeitos-cascada que fazem parte de construções sobrenaturais têm sentido ou o impacto necessário, optando por literais explosões cujo significado é ininteligível mesmo após os créditos finais rolarem.

O filme não é destituído por completo de bons momentos – que incluem um início bem estruturado e a presença magnética de Tatiana Maslany como Lois, mãe dos gêmeos, e sua eventual ruína em uma das cenas mais chocantes do longa. De maneira similar, o cuidado imagético chama a atenção pelo uso de cores fortes, em especial as tonalidades de vermelho e de amarelo, e pela condução estética de várias sequências – brincando com jogos de luz e sombra que prestam homenagens a incursões similares em um respiro criativo.

o macaco

Infelizmente, os ápices positivos não são fortes o suficiente para ofuscar os múltiplos e amadores deslizes que se despendem em O Macaco – uma constatação tristonha, de certa maneira, considerando o trabalho incrível que Perkins havia feito com sua produção anterior. De qualquer forma, é provável que boa parte dos espectadores saia dos cinemas satisfeito caso não leve a sério essa mixórdia cinematográfica, mas, na mera opinião deste que vos escreve, existem produções bem melhores que merecem nosso tempo.

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