Clichês Sem Fim
Clichê: Molde ou vulgaridade que a cada passo se repete com as mesmas palavras. Chavão, Lugar Comum. O novo Amor Sem Fim se encaixa perfeitamente em tais definições. É claro que muita gente não se importa com isso, e que as românticas inveteradas de plantão preferem ver a mesma história repetidas vezes, já acostumadas com a estrutura da cartilha, do que verem apresentado algo que pode não satisfazê-las emocionalmente.
É claro também que quando esta história foi contada pela primeira vez, em 1979, pelo romancista norte-americano Scott Spencer em seu livro, as coisas eram diferentes. A adaptação do livro para as telonas chegava numa época de boom para romances melosos e dramáticos, desses que nos deixam arrasados com o coração doendo ao sairmos da sessão. Love Story havia impactado o público há uma década, e na nova chegavam produções como A Lagoa Azul (1980), filme ícone do romance intenso.
O tema do romance entre um sujeito de origem humilde se apaixonando por uma jovem da alta sociedade não é novo, no entanto Amor Sem Fim (1981) foi impulsionado fortemente para se tornar um sucesso massificado. Primeiro, contava com a direção do cineasta italiano especialista em Shakespeare, Franco Zeffirelli, responsável por A Megera Domada (1967), Othello (1986) e pela versão mais conhecida de Romeu & Julieta (1968) até então.
Segundo, trazia no elenco a jovem estrela Brooke Shields, que ganhou os holofotes justamente pelo filme A Lagoa Azul, no ano anterior. E terceiro, porque contava com a marcante canção de Lionel Richie e Diana Ross, usada como tema do filme, de mesmo nome. Amor Sem Fim se tornava o grande romance da época nos cinemas. Agora, uma nova versão chega, seguindo a interminável tendência das refilmagens, com a proposta de apresentar a obra para toda uma nova geração. E olhe só, o resultado é, digamos, decepcionante.
Todos reclamam das refilmagens. Simplesmente pelo fato de existirem. O problema não é esse. O que acontece é que a maioria dos filmes que são repaginados, tinham uma razão de ser para suas determinadas épocas, e tinham o que dizer sobre o período de onde vinham. O comportamento simplesmente era outro. Ou seja, muitas das obras reimaginadas precisam de toda uma nova estrutura para caber na atualidade. Não é aceitável apenas mostrar carros novos e interação através de mídias sociais. A ideia por trás precisa ser remodelada.
É justamente o que ocorre com a nova versão de Amor Sem Fim, um filme que parece saído dos anos 1980, ou quem sabe de antes disso até. Tudo é muito antiquado e parece existir somente em seu próprio universo. O erro maior está justamente onde deveria ser sua maior força, o comportamento da dupla principal. O filme seria muito mais eficiente se mostrasse como dois jovens atuais, em pleno ano de 2014, realmente se comportariam em tais situações.
Alex Pettyfer vive David Elliot, rapaz de origem humilde, que trabalha como manobrista em um restaurante chique, e estuda na mesma escola da solitária Jade Butterfield, vivida pela bela Gabriella Wilde (substituindo Brooke Shields). Embora vindos de mundos diferentes, a afeição dos dois cresce e o relacionamento surge com a perfeição de um comercial de TV, desses que mostram apenas felicidade e sorrisos. A menina de poucos amigos esconde uma tragédia familiar, com a morte de um irmão. O herói apaixonado igualmente precisou lidar com a traição e abandono da mãe.
Agora, a dupla tem pela frente como maior obstáculo de seu amor, o próprio pai da menina, vivido por Bruce Greenwood, que fará de tudo para afastá-los. Amor Sem Fim não chega a comprometer nossa inteligência, nem mesmo é um filme ruim. Tudo é bem elaborado e a dupla de protagonistas até possui química. O maior problema é justamente a grande falta de originalidade, e o roteiro que segue de perto a cartilha de filmes assim (obviamente o casal irá brigar perto do desfecho, somente para depois se reconciliar). O fato faz do remake algo completamente dispensável, e que mesmo sem assisti-lo você poderia saber de todas as cenas, narrado-as antes de acontecerem. Uma parte de todos nós gostaria de viver em tal conto de fadas.