A mídia física não está morrendo, podemos dizer que ela já morreu. Comparada ao que foi um dia, a indústria de DVDs e Blurays se tornaram um nicho, apenas para colecionadores, o que é uma parcela muito pequena do público consumidor de filmes. Estúdios como a Disney, por exemplo, já revelaram que irão parar de produzir mídia física – ou seja, não espere conseguir novos longas do estúdio para sua coleção. Por outro lado, colocando ainda mais o prego no caixão, grandes empresas fabricantes de tecnologia também não estão mais produzindo os players, ou seja, em breve se o seu aparelho der problema, não terá mais onde tocar os filmes.
É o que nos traz ao segundo tópico: o domínio dos streamings. As plataformas de filmes online dominam por sua praticidade e custo. Agora não precisamos mais de espaço físico para um acervo de filmes. Essa é a realidade atual. Alguns cinéfilos, no entanto, se atentaram a um fato. Os filmes que não geram lucro algum nas plataformas de streamings, são simplesmente eliminados do acervo indefinidamente. Ou seja, certos filmes não podem ser encontrados em lugar algum – em especial os mais antigos. É justo desaparecer inteiramente com uma obra de arte?
A solução talvez tenha sido encontrada recentemente pela Warner Bros. Acontece que, através de uma ação inusitada e inédita, um dos maiores estúdios de Hollywood disponibilizou nada menos do que 36 de seus filmes totalmente de graça no Youtube. Talvez seja um experimento. Talvez sejam filmes que a Warner não deseja ter em sua plataforma (a Max) por não estar gerando lucro.
Ao menos os fãs poderão conferi-los. Porém, os filmes estão disponíveis apenas no canal da Warner do Youtube nos EUA, e a proposta ainda não chegou ao Brasil. Caso você tenha um sistema de VPN ou esteja fora do Brasil, poderá conferir os longas. Abaixo comentaremos alguns dos mais interessantes (e se a proposta der certo, em breve poderemos ter outros disponibilizados). Confira.
PS. Só do tempo que essa matéria demorou para ficar pronta (do tempo entre escrevê-la e publicá-la), a Warner disponibilizou mais um filme no canal – o mais recente foi o infantil ‘A Caixa Mágica’, de 1970, que mistura animação e live-action.
Greystoke: A Lenda de Tarzan (1984)
Clássico dos clássicos das sessões do SBT aqui no Brasil, a proposta de ‘Greystoke’ segue relevante e ainda imbatível: dar a abordagem mais realista à história de Tarzan, o rei da selva. Nenhum outro filme, antes ou depois, conseguiu dar um enfoque mais crível a este verdadeiro clássico da literatura. ‘Greystoke’ fez 40 anos de estreia em 2024, e traz Christopher Lambert em seu primeiro papel de destaque em Hollywood, no papel título. Simplesmente inesquecível, o longa foi indicado para 3 Oscar: roteiro adaptado, maquiagem e ator coadjuvante (Ralph Richardson).
A Missão (1986)
Seguimos com os clássicos dos anos 80, com este filme que é um verdadeiro épico. Dirigido por Roland Joffé (‘Os Gritos do Silêncio’), o longa pode ser considerado um precursor de ‘Silêncio’ (2016), filme de Martin Scorsese, e com ele guarda muitas similaridades. ‘A Missão’ foi indicado para 7 Oscar, incluindo melhor filme e diretor (e levou o de melhor fotografia). Na trama, Robert De Niro e Jeremy Irons são dois padres jesuítas espanhóis, no século XVIII, tentando proteger uma tribo indígena sul-americana, que vive de forma isolada, de se tornarem escravos pelas mãos do governo português. Uma aula de história.
Michael Collins: O Preço da Liberdade (1996)
Passamos para outro filme histórico, esse estrelado por Liam Neeson nos anos 90. Após sua indicação ao Oscar por ‘A Lista de Schindler’, Neeson protagonizou uma série de filmes de prestígio, alguns com peso histórico como ‘Rob Roy’ e este ‘Michael Collins’. Aqui temos a história real do líder revolucionário da Irlanda, que dá título ao filme, e lutou contra o domínio da Inglaterra, mesmo que para isso tivesse que pegar em armas e cometer atos de guerra. Esse é outro épico, desta vez dirigido por Neil Jordan, recém-saído do sucesso de ‘Entrevista com o Vampiro’. O prestígio do cineasta era tanto na época, que ele conseguiu escalar Julia Roberts para um papel coadjuvante no filme. o longa obteve duas indicações ao Oscar: fotografia e trilha sonora.
Assassinato em Primeiro Grau (1995)
Alguns filmes de grande pompa se tornam verdadeiras pérolas escondidas, mesmo contendo elencos de peso para a época. Este é o caso com este thriller dramático baseado em uma história real, que tem como foco a prisão mais infame dos EUA (e talvez do mundo): a ilha de Alcatraz. Quem estrela é Kevin Bacon, como um presidiário do local, que após três anos tratado como animal em uma solitária, é acusado de matar seu companheiro de cela. Para defende-lo nesse polêmico caso, o promotor vivido por Christian Slater. Completando o elenco, temos o sempre ótimo Gary Oldman (vencedor do Oscar). Esse foi um dos muitos casos envolvendo a icônica prisão.
A Fogueira das Vaidades (1990)
Por falar em polêmica, talvez o filme mais controverso do início dos anos 90 seja este ‘A Fogueira das Vaidades’. Adaptação de um livro elogiadíssimo e premiado, cuja história é inflamatória por si só e desmascara a alta sociedade americana, a versão para o cinema parecia não ter como errar – e tinha tudo para se tornar o filme do ano. Bem, não foi assim que aconteceu.
Isso porque muitas mudanças foram feitas não apenas no tom, mas também na escolha de atores para interpretar os personagens, que não tinham nada a ver fisicamente ou sequer em personalidade. Nem mesmo o graduado Brian De Palma conseguiu dar conta e o filme se tornou um desastre na época – hoje ressurgindo como item cult.
Na trama, um ricaço e sua amante (papel de Tom Hanks e Melanie Griffith) atropelam um homem sem teto e fogem (entre outras coisas por não poder admitir estarem juntos naquela hora e momento). Porém, a atuação mais criticada foi a de Bruce Willis como o jornalista que desmascara o caso. Na época, muitos criticaram a decisão de colocar Willis no elenco, apenas para atrair seus fãs, pois era um grande astro.
A Malandrinha (1991)
Todos adoramos o inesquecível John Hughes e seus filmes: sucessos como ‘Curtindo a Vida Adoidado’, ‘Clube dos Cinco’, ‘Gatinhas e Gatões’ e ‘Mulher Nota Mil’. Até mesmo quando não dirigia, apenas produzia e escrevia, seus filmes se tornavam cult, vide ‘A Garota de Rosa-Shocking’, ‘Alguém Muito Especial’ e ‘Esqueceram de Mim’. Mas um que quase ninguém fala hoje e que marcou a despedida de Hughes na direção de filmes foi ‘A Malandrinha’, de 1991. A graciosa Alisan Porter, que interpreta a menina Curly Sue do título, tinha tudo para emplacar e fazer sucesso em sua carreira, mas este terminou sendo seu filme mais famoso. Ao lado de James Belushi, a dupla é formada por pai e filha, que vivem de dar golpes nos outros. Sua mais recente vítima é a ricaça loira vivida por Kelly Lynch. Porém, através desta relação, todos irão mudar e evoluir. O charme do filme é sem dúvida a menina.
O Ano que Vivemos em Perigo (1982)
Voltando para os anos 80 agora, temos um dos primeiros papeis de destaque na carreira de Mel Gibson. Aqui, o astro atua ao lado de Sigourney Weaver em um drama sobre jornalistas cobrindo a turbulenta eleição do presidente Sukarno na Indonésia. A direção é de Peter Weir, o mesmo de ‘Sociedade dos Poetas Mortos’ e ‘O Show de Truman’. O longa foi vencedor do Oscar na categoria de melhor atriz coadjuvante para Linda Hunt.
O Turista Acidental (1988)
Por falar em filmes vencedores do Oscar na década de 80, aqui temos mais um. A produção foi indicada para 4 prêmios, incluindo melhor filme, roteiro e trilha do maestro John Williams, e sairia vencedor também da categoria de atriz coadjuvante, para Geena Davis. Na trama, o saudoso William Hurt é quem protagoniza, como um escritor de guias de turismo, cuja vida desmorona após a morte de seu filho, incluindo seu casamento. Kathleen Turner interpreta sua sofredora esposa. Os atores já haviam trabalhado juntos no thriller erótico ‘Corpos Ardentes’ (1981). Davis vive a mulher que irá mudar a vida do sujeito.
O Grande Motim (1962)
Os que acham que remakes são coisa de agora, estão errados. As refilmagens existem desde os primórdios da sétima arte. Uma das provas disso é este ‘O Grande Motim’, de 1962, estrelado pelo lendário Marlon Brando. O longa é na verdade o remake de um filme homônimo de 1935, estrelado por Clark Gable. Na trama, Brando vive um tenente de um Navio Britânico, que lidera o motim contra o seu Capitão, devido a condições sub-humanas a que o oficial impõe aos seus subordinados, após uma missão no Taiti em 1787. ‘O Grande Motim’ foi indicado para 7 Oscar, incluindo melhor filme.
Armadilha Mortal (1982)
Um dos melhores filmes contidos na lista, resolvemos deixar o suspense cômico ‘Armadilha Mortal’ para o fim. Dirigido por Sidney Lumet, o filme traz Michael Caine como um esnobe dramaturgo com bloqueio criativo na hora de escrever sua próxima peça. Então, ele encontra um antigo aluno, papel do eterno Superman, Christopher Reeve, que lhe pede conselhos no texto escrito por ele. Ao se dar conta do brilhantismo da escrita, o professor resolve roubar a ideia do pupilo. Porém, para isso, ele precisará se livrar do autor também, e precisará cometer um assassinato perfeito sem pistas. O filme é todo realizado como uma peça, em um único ambiente, com apenas três atores: Caine, Reeve e Dyan Cannon, que vive a esposa do primeiro.
Cidade Ardente (1984)
Fechando as dicas dos filmes mais interessantes contidos no catálogo do canal do Youtube da Warner, disponibilizados de graça, temos o obscuro ‘Cidade Ardente’. O filme policial se propôs a juntar em cena pela primeira e única vez, as duas maiores lendas dos filmes do gênero da época: Clint Eastwood e Burt Reynolds. Na trama, eles eram parceiros na força policial. Porém, após uma desavença, Reynolds se torna detetive particular. Agora eles não se aturam, mas estão atrás do mesmo caso. O longa passado nos anos 30, mistura elementos de comédia, e é uma homenagem aos filmes noir de mafiosos e policiais. O longa se tornou cult, embora ainda hoje não seja tão conhecido. Mas vale pelo encontro de titãs.